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Testemunhos

Neste espaço, pretende-se dar enfase à partilha de experiências vivenciadas ao longo deste último ano de pandemia e o impacto que estas tiveram nas diversas áreas na vida dos indivíduos.

Testemunho 1

        O aparecimento da covid 19 e respetivas medidas a respeitar, inicialmente, fizeram com que ativasse o meu estado de sobrevivência e entrasse em estado de negação. Como me considero uma pessoa muito ativa, pois além de estudar o que mais amo e ter uma vida social razoável também pratico desporto, a pandemia fez com que tivesse de parar toda esta rotina a que estava habituada e que, por sua vez, eu tanto gostava. De igual modo, alguns sonhos que idealizava realizar a curto prazo também tiveram de ficar, de certa forma, em” stand by”. Quando entrei na universidade imaginei a minha vida académica de outra forma, entretanto com o aparecimento da pandemia, eu e muitos outros estudantes tivemos de mudar a nossa atitude no contexto académico. Além disso, as aulas online nunca terão o mesmo impacto que as aulas presenciais têm, o que prejudica a aprendizagem dos alunos, assim como os resultados escolares.

        A vida académica perdeu a sua alegria. A vida ficou sem festa. As pessoas ficaram tristes. As crianças que crescem em tempos de covid são outras crianças, habituadas a não ver as expressões das pessoas, a ter ausência de convívio, a não poder tocar nas pessoas. É estranho pensar que não podemos fazer tudo aquilo que nos torna humanos. O vírus é perigoso, mas as medidas que temos de tomar para o travar podem também originar consequências negativas, muitas delas podendo, inclusive, ser perigosas para o ser humano. 

        É certo que o ser humano tem uma incrível capacidade de adaptação, mas isso não quer dizer que não seja penoso o processo. De facto, viver em tempo de pandemia, especialmente para aqueles que estavam habituados a outro tipo de realidade, não é, de todo, fácil. Por isso, importa aceitar e olhar para a situação com outros olhos.

        Contudo, além dos aspetos negativos, também há uma boa perspetiva de encarar esta situação pandémica: aprendemos sempre algo com realidades que não estamos habituados e aprendemos sempre algo com algo que nos provoque tristeza. São muitas as aprendizagens que podemos retirar desta nova realidade que vivemos.

Feminino, 20 anos

Testemunho 2

Testemunho 3

"PORQUE NÃO NOS FOI DADO ACESSO AOS PENSAMENTOS DOS OUTROS?

 

Temos acesso a carruagens de informação sobre os outros, temos acesso a vagões de literatura sobre os outros, temos acesso a bancos de fotografias e vídeos sobre os outros, temos acesso à família dos outros, temos acesso às redes sociais dos outros, temos acesso aos trabalhos dos outros, temos acesso às finanças dos outros, temos acesso às casas dos outros, temos acesso ao mundo externo dos outros, temos tanto acesso, mas não nos foi dado acesso aos pensamentos dos outros. Porquê? Porque terá isso acontecido? Quem o decidiu? Se o decidiu, fê-lo como, com que intuito e quando? Serão os nossos pensamentos assim tão inaudíveis? Serão assim tão impenetráveis? Serão assim tão invisíveis? Serão assim tão contagiantes? Serão assim tão privados? Ou será que pensamos todos, muitas vezes, sobre o mesmo? Ou será que temos pensamentos muito distintos? Será?

 

Convivendo anos com a impossibilidade de ter acesso aos pensamentos dos outros, quase que me sinto preso a pensar que os outros já pensaram muito do que pensei, contudo nunca o disseram. Por vergonha? Por acharem que jamais havia sido pensado? Por sentirem que o que pensam é impensável? Por temerem ser domados pelos seus pensamentos? Por quererem sentir que os seus pensamentos são só seus? Ou por crerem que, dando acesso aos seus, pessoais pensamentos, se escondem melhor dos dos outros?

 

Muitos estudam o que pensamos, mas poucos se aventuram em perceber como funcionam os nossos pensamentos. Porque será? Porque o medo de se entender que não controlamos a maioria do que pensamos, nos faz querer só entender o que pensamos? Será? Ou porque o próprio pensamento implica uma atitude de muita coragem, fragilidade e vulnerabilidade? Será que acedemos aos nossos pensamentos ou serão eles que nos acedem, diariamente?

 

Quando penso, ou melhor, quando acredito que o que penso me foge das mãos, entro numa espiral. Essa espiral não anda às voltas, como seria de esperar, ela sobe e desce, vai de um lado para o outro, cai e levanta-se, por vezes, perdendo-se. Quando se perde, o acesso fica, automaticamente, mais restrito, mais contido, mais abafado, impelindo-nos a resgatar alguns pensamentos passados, por meio da emoção. Será que todos vivemos em redomas de vidro lacrado? Será que as pessoas andam, feitas santos de altar de cómoda familiar, em mogno familiar, tão centradas em si, que se deixaram tomar pelos seus pensamentos, pelos dos outros, pelo medo, pela dor, pelo destempero pela ansiedade, pela desumanidade?

 

O acesso é restrito, mas a esperança e a fé são populares. Num acesso se descobre, num acesso se encobre, num acesso se vislumbra, num acesso se inunda, num acesso se contenta, num acesso se experimenta, num acesso se fica, num acesso se foi. Porquê?"

 

16 de março de 2021
Masculino, 1º Ano de Psicologia UAc

        Já saí da faculdade há alguns anos - 6 para ser exata- e não consigo imaginar como estará a ser difícil para os ATUAIS alunos, não vivenciarem as mesmas experiências académicas, o calor dos debates nas aulas e ter de , por agora, aprender através do ecrã. Acho irónico, que até 2020 estávamos a lutar para que os jovens, se focassem mais no mundo real e se afastassem das tecnologias e redes sociais, e hoje em dia, estas são as ferramentas fundamentais para que a educação não caia pelas ruas da amargura.

        Quando a pandemia chegou à Região, não me preocupei muito, nem a curto-prazo, nem a médio-prazo, mas ao ver os meses passarem, comecei a sentir os primeiros sintomas da fatiga do Covid.. Sentia-me extremamente irritadiça, impaciente, confusa e farta de não poder "ir a lado algum". Depois apercebi-me que alguns planos haviam ficado para trás e a incerteza de não saber quando os poderia reestabelecer, deixou-me ansiosa.

        Felizmente, decidi enfrentar a fatiga de cabeça erguida e procurei outras formas de entretenimento e de ocupação. Comecei a pintar, a escrever um diário dos acontecimentos, a fazer caminhadas e a reaprender a tocar violão.

        Acho que no fundo, se quisermos, podemos fazer muita coisa, aprender novas habilidades e sair do sofá. Não podemos nos deixar cair na inércia e culpar o vírus. Que consigamos todos sair desta e aprender mais com tudo que estamos a passar: + solidariedade, + compaixão, + proatividade. Enfim, que consigamos ser melhores para que o futuro seja risonho...

Feminino, 26 anos

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